A continuidade da redução da taxa de juros aqui no Brasil está acendendo sinais de alerta. As falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na quarta-feira (17), desencorajam o mercado em relação ao ritmo dos cortes.
Segundo ele, uma manutenção do cenário de incerteza elevada pode levar o BC a uma redução do ritmo de redução da Selic, destacando a responsabilidade fiscal do governo Lula.
No início da semana, o ministro Fernando Haddad confirmou mudanças na meta fiscal de ano que vem. O projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, encaminhado ao Congresso, prevê déficit primário zero.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, avalia que a perda de credibilidade da política fiscal é a responsável por uma maior pressão inflacionária, com risco bem mais elevado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) encerre o ciclo de relaxamento monetário com a taxa Selic em patamar ainda elevado.
Ele destaca ainda, como efeitos, o encarecimento do custo do crédito, aumento do custo de financiamento do Tesouro e um menor crescimento econômico.
Selic elevada por mais tempo
Goldenstein pondera que o Relatório Focus dessa semana ainda não capturou a reação às mudanças das metas fiscais.
“O aumento, ainda discreto, das projeções para a taxa Selic no final do ciclo refletem tanto o cenário externo mais adverso quanto causas locais, como a robustez da atividade e do mercado de trabalho e a resiliência da inflação de serviços”, explica.
Para ele, as projeções para a Selic esperada continuarão a subir, tendo em vista que a política monetária pode ser afetada pelo maior risco de deterioração fiscal, em função dos seguintes fatores:
- (i) desvalorização cambial, devido ao maior prêmio de risco;
- (ii) desancoragem das expectativas de inflação;
- (iii) maior impulso à demanda agregada; e
- (iv) aumento da taxa neutra de juros.
“Nossa previsão, na Warren Rena, era de uma Selic terminal de 9,0%, mas considero que aumentou muito a chance de uma Selic terminal de 9,75%, mais em função dos riscos fiscais domésticos do que do quadro externo”, conclui.
A economista do Insper Juliana Inhasz reforça que a Selic deve ficar mais elevada devido à mudança no fiscal.
Inhasz explica que já pairavam dúvidas sobre qual seria o ritmo de redução da taxa a partir de agora, tendo em vista o aumento das pressões inflacionárias, aliadas com a percepção de que nos Estados Unidos as taxas de juros também devem permanecer altas por mais tempo.
“A gente deve ter taxas de juros mais altas. A gente já tinha a percepção de que a taxa ficaria alta por mais tempo por conta desse cenário externo, também agravado pleos conflitos no Oriente, que tem jogado o preço do petróleo para cima”, avalia.
Dessa maneira, ela salienta que o cenário externo já configurava uma situação delicada em relação aos juros, agora aliada com a piora das expectativas na economia brasileira, devido ao fiscal.
A economista pondera que o mercado não vê com bons olhos as mudanças propostas pelo governo, resultando em uma piora nas expectativas pela economia do país. Ela reforça que, considerando que o Banco Central segue sendo conservador, as taxas devem ficar mais altas para, ao menos, conter o processo inflacionário.
Fonte: moneytimes